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12/04/2017

[Report] Apresentação do novo "The Event Horizon" dos Steelfall nos Nirvana Studios

É sempre muito gratificante presenciar o momento em que músicos talentosos conseguem romper barreiras e ultrapassar os sempre difíceis obstáculos que surgem para se lançar um álbum fora do contexto mainstream nacional, e os Steelfall fizeram-no em tempo recorde. 

A passada noite de dia sete brindou-nos com um desses momentos, numa reunião de almas que se movimentam no underground nacional, público e bandas, que suportam uma cena onde talento e dedicação são requisitos imprescindíveis e que de tempos a tempos vê nascer grandes trabalhos como este “The Event Horizon” dos Steelfall

O espaço escolhido para a festa de lançamento foi o Le Baron Rouge nos Nirvana Studios em Barcarena e os padrinhos de batismo foram as Ignis Fattus Luna, os Burn Damage, e os The Royal Blasphemy.

Faltava cerca de dez minutos para as vinte e três horas quando as conversas na rua e ao balcão cessaram e o público, que à data não seriam mais de cinquenta pessoas, se aproximou do palco. Envoltas numa nébula de sensualidade e misticismo, surgiam as Ignis Fattus Luna, desfilando belas coreografias, ora em atuações singulares ora em grupo.
Ignis Fatuus Luna
O trio apresentava-se bem rotinado, cativando a atenção dos presentes com a sua abordagem alternativa à dança do ventre. 

Com a competência e criatividade que vem a desenvolver desde 2011 e que já lhes valeu colaborações com os Moonspell, agradaram e não pareceram deslocadas da noite mais centrada na atuação das bandas.


Cerca das vinte e três e trinta era a vez dos Burn Damage, o quarteto de Death\Groove metal é uma das bandas do underground nacional mais requisitadas para tocar ao vivo, não tendo faltado oportunidades para apresentarem ao vivo o aclamado álbum “Age of Vultures”, esperando-se por isso mais uma grande e bem oleada atuação. 
Burn Damage
Os primeiros acordes de ‘Age of Vultures’ puxaram de imediato todos para dentro da sala, e apesar do pouco público a sala ficou bem composta. 

É inevitável dar destaque à vocalista Inês, a sua voz é capaz de impressionantes rugidos rasgados e vozes oriundas das mesmas profundezas onde se refugia lucifer, sendo ao mesmo tempo um animal de palco, com grande à vontade e uma teatralidade penetrante.

Burn Damage
Com a atuação quase exclusivamente centrada no supracitado álbum, foram desfilando temas do referido trabalho e conquistando cada vez mais headbangings. A exceção ao “Age of Vultures” surgiu quando apresentaram um tema novo, a fazer parte de um futuro trabalho, ‘Fire Walk With Me’, interpretado com uma certa emotividade, revelou-se um prenúncio auspicioso para o que estará para vir. 

Seguiram-se temas muito queridos dos fãs, merecedores de destaque entre os temas do álbum de 2016, ‘Acid Rain’ e ‘4 Little Pigs’, conquistadores de gritos e muitos aplausos, disparados com uma energia que concedia pouco espaço para respirar. Finalizaram com ‘Beyond Good and Evil’ apos cerca de quarenta minutos de concerto.

Seguiram-se os The Royal Blasphemy. Com fãs de todas as idades na plateia, foram desde logo recebidos com alguns headbangings e aplausos audíveis sobe o embalo dos riffs orelhudos e pesados de ‘Corruption’ que se seguiu à intro ‘Prelude For Idiocrazy’. 
The Royal Blasphemy
Libertaram o seu som com total entrega em palco, conseguindo imprimir na memória do público os seus refrões, pondo parte dele a cantar com eles. Com o álbum Sanatorium:Freedom para promover, e sem novidades, a set list focou-se no mesmo, abrilhantando os temas com momentos muito especiais como quando 


o filho do vocalista Tiago, Ian, com apenas 5 anos, substitui o pai como vocalista no tema The Riot, mostrando-se surpreendentemente à vontade em palco, 


superando o desafio e alcançado uma das maiores ovações da noite.
The Royal Blasphemy
Seguiu-se nova colaboração especial quando Kahina Spirit das Ignis Fattus Luna, subiu ao palco para embelezar ‘Anarchy’ com a sua dança, antes de fecharem com ‘No Future’, em mais uma demonstração de entrega e emotividade, terminando com o Tiago no meio do público e Ian de volta ao palco apoiando na precursão, deixando-nos a todos nos cheios de esperança no futuro.
The Royal Blasphemy
Já caminhávamos a paços largos para as duas horas da madrugada quando os Steelfall subiram ao palco, para apresentarem o seu trabalho de estreia. 

Aquilo que começou como um projeto pessoal de Sérgio Melo (Hourswill, Tó Pica) evoluiu para uma banda que com poucos meses de existência conseguiu logo essa grande marca que é lançarem um álbum, desta feita pela Raging Planet. 
Steelfall
A reunião de músicos experientes em palco demonstrava um bom entrosamento, apesar de como banda ainda se encontrarem a dar os primeiros passos, soltando riffs pesados e rápidos, refrões memoráveis, fundindo partes melódicas com as mais agressivas, misturando heavy metal com trash metal, o metal clássico com o moderno, com enérgica entrega e competência.

Sem supresa foram desfilando os temas de “The Event Horizon” seguindo o alinhamento do álbum. Entre os primeiros temas destaque para ‘Drowning In Hatred’, o peso dos seus riffs marcou um ponto de viragem entre a simples curiosidade do público e a plena satisfação, comprovado pelos braços no ar e gritos que se ouviram e continuaram em ‘The Unspoken’. 

Se a execução instrumental foi irrepreensível, a voz de David Pais (One Hundred and Twenty, Wishful thinking, Low Torque, Ashes, The9thCell) eleva ainda mais o som da banda, prova disso mesmo a malha ' This Fire Will Rise’ que antecedeu um dos raros momentos não focados na apresentação do álbum, um cover de Motörhead com o tema ‘Ace Of Spades’, contando com Tiago dos The Royal Blasphemy na voz.
Steelfall
A segunda metade de “The Event Horizon” foi sendo libertada acompanhada por um crescente de headbangings e aplausos, que muito contribuíram para o ambiente bem-humorado que se vivia em palco. Destacando-se da segunda metade de atuação o primeiro tema composto para o álbum, o tema título, que mereceu algumas das melhores reações da noite apesar do avançar da hora. Teriam acabado com ‘No Time’ não tivessem guardado para o final um cover de ‘Maniac’ de Michael Sembello, lançado no longínquo ano de 1983 que alguns recordaram do filme Flashdance, desta feita com um roupagem mais pesada e metálica.

Le Baron Rouge é um espaço de músicos para músicos, proporcionando genericamente bom som às bandas e uma sala que apesar de pequena está bem pensada e com boas condições. 


Quanto aos Steelfall, o futuro é auspicioso, o álbum apresenta um som original, fundindo influências com inteligência, bem produzido e como se pode ver, solidamente executado em palco. Estamos perante mais um nome que merece ser acompanhado no underground nacional.


Texto: Henrique Duarte
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos aqui)

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